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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Última Postagem


          No final do ano o blog completa 10 anos!
          Em uma década, com excessão da evolução das fotos e leves variações na forma de escrever, nada do que me levou a começar mudou. Ele sempre foi uma terapia para a fadiga crônica, servindo como diário e ocupação.
          A fadiga pode afetar tanto a memória momentânea (se eu estiver muito afetada no momento, não guardo o que ocorreu nele) e à longo prazo (perco parte das informações, principalmente detalhes com o tempo). No final, acabo lembrando mais ou menos só que saí, com quem e para onde. Não lembro direito de como eu estava física e emocionalmente, como estava vestida, o que comi, o que conversei ou vivenciei.
          Eu não escrevia, nem tirava fotos antes do blog. Também não me interessava pela internet, a não ser para jogar. Praticamente não tenho registros da minha vida antes disso além de fotos bizarras de infância. Eu nunca tive interesse, nem sentia necessidade de registrar o meu dia a dia porque estava satisfeita em apenas viver e lembrar depois. Minha memória sempre foi muito boa para o que me interessava, principalmente roupas e estudos. Sempre lembrava exatamente de qualquer coisa que quis estudar e de cada roupa e combinação que usei em cada dia.
          A fadiga me fez ter que desistir da faculdade porque além de não dar conta fisicamente, não conseguia mais estudar e reter tanta informação, às vezes, nenhuma. Não tinha o que fazer quanto à isso, mas, assim como eu poderia reler os livros caso quisesse lembrar de algo, poderia registrar minhas coisas dali em diante para recordar mais tarde.
          Escolher fotos e forçar a lembrança para editar as postagens "assenta" a memória recente. Fazer tudo de forma super organizada ajuda a colocar tudo no lugar na minha cabeça. Quando quero lembrar de algo, só preciso ver por cima o post daquele dia, que já vêm várias coisas, mesmo detalhes que não citei.
          Até o final eu escrevi pra mim, da forma que eu queria, no meu tempo, sem me preocupar com a falta ou o excesso de visibilidade porque a prioridade sempre foi só a terapia. Cansei de recusar ou dar bronca em quem tentava me convencer a fazer x e y pra profissionalizar, ganhar coisas e ser famosa, porque eu não tenho interesse, psicológico e saúde. Se eu gostasse de socializar, alguma fama talvez fosse legal, mas é algo que eu realmente não gosto e que me estressa muito. Sem contar que "me esforçar mais" por qualquer coisa que não seja a minha saúde, já iria contra a lógica de tudo e se tornaria inviável.
          Por sorte ou por sempre manter distâncias seguras e formalidades, praticamente não tive problemas com essa exposição. Todos sempre foram muito gentis e conheci muitas pessoas boas. Algumas são minhas amigas queridas até hoje. Sou muito grata a todos!
          De qualquer forma, infelizmente, chegou o momento que eu sabia que cedo ou tarde aconteceria: não consigo mais dar conta do blog.
          Mesmo ainda sendo jovem, a disposição de 30 não é a mesma de 20. Acredito que quem seja saudável também sofra alguma diminuição no pique. Com fadiga, esses anos fizeram muita diferença.
          Hoje meu corpo é mais forte e saudável do que antes dela. Me exercito muito, faço dieta, tomo vitaminas... Me consulto com especialistas e faço exames regularmente. Tudo isso me faz estar fisicamente melhor para balancear os efeitos, mas por mais que me ajude a estar bem pra aguentar melhor resfriados, infecções e períodos de inércia, também tem o efeito colateral de causar ainda mais cancaço e necessita de muitas horas de investimento para manter.
          Atualmente tenho em média 6 horas úteis no meu dia tirando o tempo em que estou dormindo, descansando ou passando mal. É isso, não tenho 3/4 do dia.
          Nos "dias bons", descansar é ficar sentada ou deitada jogando ou assistindo algo. Nos dias ruins é só ficar deitada de olhos fechados por horas sem ver, ouvir ou sentar porque dói e cansa. Todo o meu empenho é para que a maioria deles sejam dias bons.
          Depois de anos me adaptando e me esforçando para ter dias bons, finalmente consegui estabilizar, mas isso significou abrir mão de mais coisas. Com o tempo, notei que valia mais a pena me limitar e ter mais dias bons do que avacalhar e perder a semana toda passando mal. Isso porque o meu "avacalhar" deve ser o dia normal de alguém, que é sair num sábado, passar o dia todo fora e deixar o domingo para descansar. Eu tenho que descansar por muitos dias, descansar sem saber se vou levantar segunda (ou terça, ou só quarta), sem poder ir guardar as roupas que usei, sem poder sair da cama pra pegar comida ou tomar banho... Não era assim no início, mas ficou assim depois de mais velha. Não valia a pena!
          Então, eu reavaliei o que eu precisva fazer e vi que deveria diminuir os passeios (a duração também) e a frequência social, que apesar de ser necessária, preciso de muito pouco. A minha é muito baixa e sempre dei mais atenção para as pessoas do que queria ou podia porque queria ser uma boa amiga, mas não me fazia feliz. Com o tempo, passei a ter ansiedade ao ter que dar atenção quando não queria e isso foi um sinal para eu parar.
          O outro ponto é que essas horas úteis são gastas com cuidos básicos (comer, tomar banho, escovar os dentes, usar o banheiro), afazeres domésticos simples, exercícios e terapias ocupacionais. A prioridade é 2 horas todos os dias com o corpo (aeróbica + musculação + alongamento) e 2 horas com a mente, atualmente, jardinagem e cuidados com a beleza (massagens, cosméticos). O resto é espremido no tempo que sobra e sempre falta, saindo das horas de descanso.
          Aí, vem o problema. Qualquer coisa extra sai das horas de descanso. Se eu quero ver umas lojas ou ir na sorveteria e não posso deixar de ir na academia, sai das horas de descanso, então, não descanso, me canso horrores me exercitando e no dia seguinte começa tudo de novo. Se tiro das terapias, aumenta o meu estresse, que é suficiente pra causar dores.
          As horas em que passeio o dia todo são descontadas das horas de descanso e de afazeres, assim como quando tenho que fazer compras, ir no hospital (o que faço com frequência), dar atenção pra amigos, família e marido.
          Sobra pro marido trabalhar e receber atenção só quando estou bem ou lúcida. Esse também é um dos motivos de eu querer ter mais dias bons, assim, minhas horas de descanso são vendo séries com ele (entre outras coisas divertidas, pra quem ficou em dúvida XD), jantando com a minha família, vendo algum filme que queria vez há tempos ou num chat com alguns amigos.
          Estou com essa rotina desde o início do ano e foi a mais funcional até então, mas, como descrevi, não sobram 3-4 horas pra fazer uma postagem na semana (levei 6 pra editar essa porque além de aguardar a iluminação, tenho que fazer várias pausas e dividir em dias). Por isso, sem estar triste, sabendo que é a coisa certa a fazer, esta será a última postagem.
          O blog vai continuar aberto para visualização e eu vou continuar ativa pero no mucho no facebook. Vou adaptar meu esquema de reforçar memória e continuar tirando algumas fotos para guardar e rever nas minhas pastas, mas pretendo publicar algumas esporadicamente. Vou manter o Instagram, que parece ser o mais prático para isso, então, quem tiver interesse, me siga por lá.