Quem acompanha o blog desde o início ou releu postagens passadas e se ateve a alguns detalhes da minha rotina, sabe ou desconfia que eu tenho algum problema de saúde. No início, minhas postagens eram muito mais frequentes e apresentavam fotos na faculdade ou logo após ter saído da aula, mas depois de algum tempo, essa frequência caiu, as postagens passaram a ser cada vez mais em outros lugares e eu comecei a relatar que passava mal de vez em quando. Mais tarde, cheguei a trancar semestres e perder eventos, muitas vezes ficando mais de uma semana sem sair de casa, por conta da saúde que piorou.
Por muito tempo acreditei que era um caso de baixa imunidade, pois todos os médicos diziam que eu estava saudável. Segundo os exames, eu estava ótima, o que os levavam a acreditar que o meu problema era psicológico. Eu nunca acreditei que era psicológico. Eu estava feliz, querendo voltar a estudar, sair, me exercitar e sabia que havia algo muito errado com o meu corpo, por mais que os exames não mostrassem.
Até que no ano passado, assistindo a um dos programas médicos da Discovery Home & Health, vi uma pessoa com os sintomas idênticos aos meus. E foi assim, sem querer, depois de já começar a cogitar que deveria mesmo ser psicológico, que descobri que tenho Encefalomielite Miálgica, ou Síndrome de Fadiga Crônica, que em resumo é um conjunto de sintomas físicos e neurológicos, tendo dores fortes no corpo e cansaço constante que não cessam com remédios ou descanso como os principais. Ela não é contagiosa, não tem causa, não pode ser detectada por exames laboratoriais, não tem tratamento ou medicação e não tem cura.
Eu era uma pessoa extremamente ativa. Adorava estudar, trabalhar, praticar esportes, sair na sexta e voltar apenas no final do domingo, dormia pouco mais de cinco horas por noite e ainda me sentia cheia de energia todos os dias. Eu havia acabado de finalizar um curso técnico de Administração e estava radiante por ter me mudado para Florianópolis para cursar Letras Francês. O primeiro semestre foi como qualquer outro na minha vida, mas após o segundo, comecei a notar que estava ficando mais cansada do que o normal e que comecei a sentir dores fortes no corpo. Inicialmente achei que era apenas estresse, já que sempre fui de me esforçar demais em tudo o que fazia e estava matriculada em mais aulas extracurriculares do que parecia ser saudável. Depois, passei a achar que era por conta da academia, pois talvez malhar depois de um dia todo de estudo poderia estar me sobrecarregando. Mas com o tempo, nem cortando metade das aulas e deixando a academia, os sintomas passaram, na verdade, pioraram. Pioraram a ponto de eu não conseguir terminar o meu curso por questão presencial.
Nesta mesma época eu conheci o Hudson e iniciamos um relacionamento. Ele já me conheceu assim, debilitada, e nunca desistiu de ficar comigo por isso, nunca reclamou de nada, e mudou o próprio estilo de vida para se adaptar ao meu, que nas piores fases, me obrigava a ficar de cama por dias, precisando de ajuda e vigilância constante. Devo minha eterna gratidão a tanto amor, determinação e devoção.
Neste meio tempo comecei a usar lolita e a escrever este blog. Nunca citei algo profundo ou explicativo sobre a minha saúde por inicialmente não saber o que era e posteriormente por não achar que era relevante em relação à proposta do blog.
Quem também acompanhou as últimas postagens antes de eu me mudar para Atibaia, notou que eu estava pior do que o normal. Foi o pior semestre desde que contraí a doença! Até então, eu ainda não havia sentido todos os sintomas que ela causa, mas passei a sentir quase todos ao mesmo tempo e em níveis altos. O que mais me assustava era a depressão, pois nunca tive, não sabia como é (ainda não sei), e tinha orgulho de ter passado por tantas crises sem me abalar. Eu sentia que não deveria levar muito tempo para surgir.
Após o desgaste dos sucessivos encontros de despedida, tive que dar entrada no hospital pela primeira vez. Ao voltar para casa, chorei pela primeira vez. Estava com raiva por ter algo que contrariava todos os hábitos saudáveis que eu me empenhava em ter, que eu não tinha culpa em contrair, e sentia medo de tudo ficar ainda pior, de ficar totalmente debilitada tão jovem e de morrer cedo. No segundo dia, tive outra crise de choro em pensar que eu nunca mais melhoraria, lembrando de todas as coisas que eu fazia antes, de como a minha vida era diferente e de como até meu humor era diferente. E quando cheguei neste ponto, decidi que eu até poderia ter um corpo fraco, mas não deveria permitir que a minha mente também enfraquecesse. Ser animada e feliz com cada detalhe da vida sempre foi o meu ponto forte e eu não poderia perder isso.
Me concentrando em descansar e ocupar a cabeça com as coisas boas que ainda tinha, fiz a mudança, me estabeleci na nova casa, matei a saudade da família e dos amigos daqui e fiz vários planos. Em algumas semanas, meu corpo se estabilizou e eu voltei à minha rotina normal. O foco em melhorar e os paparicos da família foram essenciais para a minha recuperação.
Decidi postar sobre o meu caso neste momento porque apesar de parecer algo horrível e triste, eu estou em uma fase ótima! Desde sempre me ative apenas às coisas boas, mesmo em meio à situações ruins, e não seria diferente agora.
Em fevereiro comecei a sentir que eu estava ficando melhor do que de costume, e logo ficou claro que eu estava melhorando exponencialmente. Percebi que estava em uma fase de quase inatividade dos sintomas, o que acontece em alguns casos e dura por tempo indeterminado. Após anos sem saber o que era apenas acordar e não sentir nada, passei a ter dias em que só acordava com fome, ou sede, ou vontade de sair, como deveria ser.
Esta postagem foi feita para comemorar os feitos bobos e fúteis da semana passada, que foi sair de casa terça-quarta-sábado-domingo e terça-feira desta semana seguidos e ainda continuar normalmente com os afazeres domésticos e com as aulas de hidroginástica. Há muitos anos eu não saio de casa mais do que dois dias por semana e com longos dias de repouso entre eles, ou faço uma faxina pesada, ou mesmo qualquer tipo de exercício físico.
Sei que a rotina da maioria das pessoas normais e saudáveis é bem mais puxada do que a minha e que eu pareço uma pessoa mimada por comemorar esse tipo de coisa, mas é o que eu ainda tenho e estou muito feliz por isso. Ainda não é a minha vida nem a minha saúde de antes, mas já está ótimo para mim.
Não sei por quanto tempo vou me manter assim, se essa boa fase vai durar algumas semanas, meses, ou, se tiver sorte, anos. Pretendo me cuidar para que dure o máximo possível e aproveitar cada segundo.
Agradeço aos que tiveram interesse em paciência de ler todo o texto. Eu geralmente não escrevo nada muito profundo ou longo por ser muito introspectiva, então espero que não seja informação demais.